Oscar Niemeyer foi um dos maiores arquitetos brasileiros e um dos expoentes da arquitetura moderna no mundo. Suas obras se destacam pela ousadia, pela originalidade e pela beleza das formas curvas que se inspiram na natureza e no corpo feminino.
Niemeyer projetou edifícios icônicos em várias cidades do Brasil e do exterior, como Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Paris, Argel e Nova York.
No Rio de Janeiro, uma das cidades mais amadas por Niemeyer, ele deixou um legado impressionante de obras que marcam a paisagem urbana e cultural da cidade. Entre elas, estão o Museu de Arte Contemporânea (MAC) em Niterói, o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, a Casa das Canoas, o Palácio Capanema e o Edifício Manchete.
Mas há uma obra de Niemeyer no Rio de Janeiro que é pouco conhecida e que está inacabada há quase 40 anos. Trata-se da Torre H, uma das três torres cilíndricas que faziam parte de um plano urbanístico chamado Athaydeville, concebido por Niemeyer em 1969. A Torre H é a única das três torres que não foi concluída e que ficou abandonada por décadas, se tornando um símbolo do fracasso do projeto de Niemeyer para a Barra da Tijuca.
O projeto Athaydeville
O projeto Athaydeville foi idealizado por Niemeyer em 1969, a convite do empresário José Athayde Filho, que era dono de uma grande área na Barra da Tijuca. A proposta de Niemeyer era criar um novo bairro na região, que fosse moderno, funcional e integrado à natureza. O projeto previa a construção de três torres cilíndricas de uso misto (residencial e comercial), um hotel, um centro comercial, uma escola, uma igreja, um clube e uma marina.
As três torres seriam o elemento principal do projeto e teriam uma altura variável entre 100 e 120 metros. Cada torre teria 38 andares e 228 apartamentos de diferentes tamanhos e configurações. Os apartamentos seriam circulares e teriam uma vista panorâmica para o mar, a lagoa e a Pedra da Gávea. As torres também teriam lojas, escritórios, restaurantes e serviços no térreo e nos primeiros andares.
O projeto Athaydeville foi apresentado ao público em 1970, em uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). Na ocasião, Niemeyer declarou que o projeto era “uma tentativa de criar uma nova forma de vida urbana, mais humana e mais feliz”. O projeto recebeu elogios da crítica especializada e do público em geral, que se encantou com a proposta inovadora e arrojada de Niemeyer.
A construção das torres começou em 1971, sob a responsabilidade da empresa Construtora Athayde S.A., fundada pelo próprio José Athayde Filho. A primeira torre a ser erguida foi a Torre A, que fica na Avenida Lúcio Costa, em frente à praia. A Torre A tem 120 metros de altura e 38 andares. A segunda torre a ser construída foi a Torre B, que fica na Avenida Armando Lombardi, em frente à lagoa. A Torre B tem 100 metros de altura e 32 andares.
As duas torres foram concluídas em 1976 e começaram a ser habitadas logo em seguida. Os apartamentos das torres eram considerados luxuosos e sofisticados para a época e atraíram moradores de alto poder aquisitivo. As torres também se tornaram referências arquitetônicas na Barra da Tijuca e na cidade do Rio de Janeiro, pela sua forma singular e pela sua localização privilegiada.
A terceira torre, a Torre H, que fica na Avenida das Américas, ao lado da Torre B, teve as obras iniciadas em 1978. A Torre H seria a mais alta das três, com 120 metros de altura e 38 andares. No entanto, a construção da Torre H foi interrompida em 1984, quando a empresa Construtora Athayde S.A. entrou em crise financeira e faliu . A Torre H ficou com apenas 15 andares construídos e nunca foi concluída.
O abandono da Torre H
A Torre H ficou abandonada por quase 40 anos, sem que nenhuma outra empresa se interessasse em retomar as obras ou em comprar o imóvel. Durante esse período, a Torre H foi invadida por moradores de rua, usuários de drogas, vândalos e criminosos. A torre também sofreu com a ação do tempo, da poluição e da falta de manutenção. A estrutura de concreto se deteriorou e se tornou um risco para a segurança pública .
A Torre H também se tornou um símbolo do fracasso do projeto Athaydeville, que nunca foi totalmente realizado. O projeto de Niemeyer para a Barra da Tijuca foi criticado por ser utópico, elitista e desconectado da realidade social e ambiental da região. A Barra da Tijuca se desenvolveu de forma desordenada e desigual, sem planejamento urbano adequado e sem respeito à natureza.
A retomada da Torre H
Em 2021, depois de muitas tentativas frustradas de negociação, a Torre H foi finalmente vendida para uma incorporadora chamada Capital 1, que pretende transformá-la em um condomínio residencial de luxo, chamado Niemeyer 360º Residences. O projeto conta com a participação do bisneto de Niemeyer, Paulo Sérgio Niemeyer, que assina a área de lazer do empreendimento. A previsão é que as obras sejam concluídas até o final de 2025.
O projeto Niemeyer 360º Residences prevê a reforma e a conclusão da Torre H, respeitando o desenho original de Niemeyer. A torre terá 38 andares e 228 apartamentos circulares, com metragens que variam entre 34 e 68 metros quadrados. Os apartamentos terão uma vista panorâmica para o mar, a lagoa e a Pedra da Gávea. O condomínio também terá uma área de lazer completa, com piscina, sauna, academia, spa, salão de festas, espaço gourmet e cinema.
Antes disso, a Torre H vai sediar uma mostra de arquitetura e decoração chamada Casa Design, que vai acontecer entre os dias 26 de outubro e 10 de dezembro de 2023. A mostra vai ocupar cinco dos 38 andares do prédio e vai apresentar 35 ambientes de 34 metros quadrados, os chamados estúdios. A ideia é explorar a arquitetura orgânica, que prioriza a presença da natureza nos espaços.
A mostra Casa Design será uma oportunidade para o público conhecer o interior da Torre H e apreciar o trabalho de Niemeyer e dos arquitetos convidados. A mostra também será um marco para a retomada da Torre H e para a valorização do projeto Athaydeville, que finalmente será concluído depois de tantos anos.
A conclusão do projeto Athaydeville será uma homenagem a Oscar Niemeyer, que faleceu em 2012, aos 104 anos. Niemeyer foi um gênio que deixou um legado impressionante para o Brasil e para o mundo. Suas obras são testemunhas da sua criatividade, da sua sensibilidade e da sua visão de futuro
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